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domingo, 25 de julho de 2021

Poeira Cósmica

Eu sou feito de sol
De lua, de estrelas  
De  poeira cósmica
Sou um pequeno universo
Nesta vastidão de mundos
Pois os átomos que 
Habitam em mim
São aqueles mesmos 
Que construíram galáxias

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Confessionário

Eu, confesso pagão,
Tendo inda limpas as mãos,
Curvei-me diante do altar
E, por querer comungar,
Professei falsos pecados. 

Tu, formosa cristã,
Ouvindo minha prece vã, 
Por transgressões não havidas,
Em vez de absolvição,
Condenaste-me à solitária.
Mais de três semanas
que não lavo louça 
Mais de dois dias
que não me banho
Mais de um mês
que não faço a cama
Mais triste de tudo
é que não me importo

O bolor na minha pia
não é sadio nem sano
É o musgo da apatia
e não o verde da Esperança

Minha cabeça já não pensa
Meu peito já não sangra
Minha dor já foi tanta
que se cansou de doer

Ainda penso em você
Quero ainda seu bem
Mas pensamentos não curam
E o bem-querer não sustém

Não há de ser nada
Queda-se tudo assim
Você aí no seu canto
E eu longe de todos
Sou tudo o que tenho
Pra cuidar de mim

domingo, 15 de outubro de 2017

A maior porção de mim mesmo

Quando tu partistes, 
Levastes embora contigo
As músicas de que eu mais gostava
E meus versos preferidos,
Os livros de cabeceira,
Pensadores favoritos.

Não posso mais escutar
Os discos que me apraziam,
Agora não são mais meus,
Embora ainda estejam comigo.

Coisas de que não gostavas,
Ou que sequer conhecias,
Hoje estão na tua sala
E são mais tuas que minhas.

Ofereci sem cuidado
Ilusões e desejos.
De tudo o que eu mais amava,
Compartilhei sem receio.

Hoje, diante do espelho, 
Me procuro e não me vejo.
Não sabes a falta que faz
A maior porção de mim mesmo.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

O Último Voo

Liberdade!
Sol gostoso como manhã de domingo
Vento ao rosto...
Nunca haverá dia melhor!

Agita os braços
Balança as pernas
Dança livremente, sem pudores
Já pouco importa o que vão pensar ou dizer
Salta levemente pelos ares
Como se não houvesse o amanhã

Viaja solto
Vê os sonhos correrem ferozmente ante os olhos
Que pareça não existir pessoa mais alegre
Neste canto de mundo
Ao observador

Pára o tempo
O aqui e o agora
É tudo o que há

E o som surdo
E o sangue quente
E o chão frio

Está livre
Não voa mais

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Vincent

Arrancar-se a própria orelha é loucura?
Um ato de angústia exagerado?
Há quem diga que é pouco, havendo duas!
Nariz, olhos, boca e garganta!

Valer-se duma dor que te distraia
Doutra tão maior e violenta
É, em verdade, não sandice,
Mas ato de extrema coerência.

Sabe, quem trabalha, quanto pesam
Labores por Raquel dados à Lia.
Só quem tem fome sabe como
Urge ter um prato de lentilhas.

Sabe, quem labuta, como tardam
Os anos por Raquel à Lia dados.
Cad'um sabe quanto lhe é custosa
A vital porção de um guisado.

Quem sente a pujante ansiedade
Que fere mais que a carne e o tormento
Que quebra mais que ossos, sabe que o
Bom mesmo é que lhe doam só os membros.

domingo, 1 de junho de 2014

O corpo caminha livre,
Mas algo oprime o coração.
Diante de si, infinitas possibilidades
Que se estendem na Vastidão.
O corpo deseja agir,
Mas a mente posterga a decisão.


O que será isso?
Fraqueza? Medo da morte? Da solidão?
Apatia? Ignorância? Indecisão?
Arrogância? Incoerência? Depressão?

Não sei se é tristeza,
Não sei se é apego.
Só sei que, às vezes, sinto
É uma enorme saudade de mim mesmo.